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Janelas, Paisagens & Bem-estar

Na hora de escolher um imóvel, seja para morar ou para investir, é um consenso que ter uma boa posição solar e uma paisagem agradável eleva o valor na hora de comprar e de vender. A sensação de bem-estar pode ser vivenciada sempre que estamos diante de uma vista incrível, mas há muito mais por trás de uma boa vista que você pode imaginar, nessa matéria vamos abordar a importância e o impacto físico e psicológico que a janela pode ter em nossas vidas.

Sumário

A história das janelas

Os primeiros registros da utilização de aberturas em construções datam de 4.000 A.C. nas casas de Persépolis, a capital do antigo império Persa. Os primeiros caixilhos, encaixe das armações de esquadrias, surgiram no Palácio de Minus na Grécia, foram os gregos que iniciaram a ornamentação das janelas nas casas com átrios, que ficavam de frente para os pátios. Os romanos começaram a introduzir a utilização de janelas nas aberturas por volta do ano 100 D.C, desde então o design acompanhou a evolução da tecnologia e do conceito de arte da humanidade.

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A noção de paisagem

O nascimento do conceito de paisagem ocorreu por volta de 1415, na Europa, através de pintura. Os quadros pintados retratavam as paisagens observadas pelos pintores e isso estimulou o planejamento da posição das construções buscando o enquadramento da paisagem nas janelas, que passaram a funcionar como uma moldura para o exterior.

A noção de paisagem, tal como é entendida hoje na sociedade ocidental, nasce no século XV, na Holanda, por meio das artes pictóricas. Na pintura, os elementos da natureza eram antes representados como satélites fixos em torno de ícones sagrados. Com a criação da perspectiva, eles passam a ter autonomia na cena por meio da profundidade sugerida. A cena enquadrada pela perspectiva é o primeiro passo no sentido de uma apreensão consciente da paisagem no Ocidente, as janelas começaram a funcionar como uma moldura para as paisagens das edificações.

Pintura Medieval Anônima (ícone de São Antipas de Pérgamo, autor desconhecido, Séc. XIII)
Pintura em Perspectiva (São Jerónimo, Hieronymus Bosch, Séc. XV)

A Janela e o Bem-estar

Existem diversos estudos que concluem a importância das janelas em ambientes terapêuticos, clínicos e hospitalares. Dentre os fatores que influenciam na recuperação e tratamento de pessoas doentes, podemos citar a percepção da passagem do tempo, a iluminação natural e o efeito da luz do sol em nosso corpo e mente.

O que cura são os procedimentos médicos, é fato. Porém, toda e qualquer iniciativa que busque minimizar os impactos do tratamento se soma à luta pela recuperação.

A exposição à luz solar estimula a produção de cortisol e melatonina no corpo, assim como à luz durante a noite tem o potencial de confundir o cérebro e diversos processos fisiológicos, gerando riscos de doenças relacionadas às alterações nos níveis de hormônio. Inclusive existem estudos sobre o Transtorno de Déficit de Natureza e o impacto negativo que a falta de contato com a natureza pode causar, principalmente no desenvolvimento das crianças.

Lake Victoria, Golden Lake
Multiplan
Cristal, Porto Alegre, RS

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É comprovado cientificamente que o ser humano precisa de luz solar todos os dias para produção de Vitamina D e regulação hormonal. Além de regular as funções biológicas, o sol ajuda a combater a depressão e outras doenças de origem emocional, uma vez que raios ultravioletas despertam a sensação de disposição e bom-humor. O conceito “A Window to the Landscape (Uma Janela para a Paisagem), artigo publicado na Redalyc.Org da Unisinos, Revista de Arquitetura, retrata que o acesso a uma boa luz do Sol, sem dependência em tempo integral da luz artificial de ambientes fechados equilibra nosso ritmo cardíaco, possibilitando a percepção da mudança de horários.

A vista para a natureza aumenta a sua qualidade de vida

Para compreender os efeitos da paisagem no nosso organismo, devemos recordar como funciona a nossa visão: Os olhos e cérebro do ser humano traduzem a luz refletida (ou emitida) de um objeto em cores, a partir dessa recepção pela retina ocular, que é sensível ao azul, verde e vermelho. As combinações dessas três cores criam o espectro de cores visíveis que estamos familiarizados, o cérebro cria um elo entre a cor que está vendo e o contexto que está acostumado a vê-la, influenciando a percepção psicológica da cor. Essa influência pode ser recente ou genética, herança dos nossos ancestrais que viviam na natureza e usavam a visão e audição para sobreviver.

De acordo com um estudo realizado pelo neurologista e psiquiatra alemão Dr. Kurt Goldstein, cores com comprimentos de onda mais longos, como amarelo, vermelho e laranja, (nascer do Sol, pôr-do-sol, fogo) são estimulantes. Enquanto aquelas com comprimento de onda mais curto, como verde e azul (árvores, campos, montanhas, água), evocam calma e serenidade. No entanto, a maneira como as pessoas percebem as cores pode diferir umas das outras devido a vários fatores, como diferenças culturais, localização geográfica e idade.

A cor verde pode ter uma conotação especial em termos de evolução humana devido à sua correspondência com ambientes naturais férteis, onde fatores como o clima temperado e a disponibilidade de alimentos eram mais propícios à sobrevivência. Os humanos tendem a migrar e se estabelecer em regiões geográficas férteis verdes do mundo e, portanto, a propensão a experimentar humores positivos em ambientes naturais é um instinto inato em que o verde tem um significado particular.

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É de forma instintiva que o cérebro humano associa a cor verde à natureza e à vegetação e, na natureza, geralmente se encontra frescor, saúde e tranquilidade. Muitos psicólogos e pesquisadores acreditam que o verde seja uma cor curativa, por isso que é comumente utilizado em clínicas médicas e áreas de espera. Nos estúdios midiáticos, por exemplo, convidados e entrevistados de programas de televisão esperam em uma “sala verde” para aliviar o estresse de estar no ar.  A Neuroarquitetura e a Arquitetura Biofílica, por exemplo, estudam o impacto do design e da natureza nos ambientes do cotidiano.

Olhar para o exterior arborizado ajuda a restaurar nossa sensação de conforto e segurança, nos situa no tempo e no espaço com a noção do que acontece ao nosso redor. A vida urbana, junto com a revolução industrial e tecnológica trouxeram outros aspectos na arquitetura que nos afastaram da essência que é viver em um planeta repleto de água e natureza, afinal de contas, estamos até hoje procurando outro planeta com as mesmas características neste universo infinito. A valorização da paisagem e o bem que agrega em nossas vidas pode ser um alívio para a rotina acelerada que a vida nas metrópoles e a concentração de serviços e facilidades exige para que tudo funcione. A próxima vez que olhar pela janela de casa para refletir, pense nisso, sua saúde e de sua família merecem.

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