O conceito de bem-estar está se transformando na nossa sociedade e a pandemia do Coronavírus acelerou a compreensão dos valores que estão sendo amplificados pelas pessoas. No início do século passado, com a Revolução Industrial, a dinâmica das construções e estruturas que convivemos nas grandes cidades foi transformada para gerar eficiência e agilidade na locomoção e utilização dos espaços. O surgimento de arranha-céus, galpões industriais e grandes avenidas aumentou a produtividade das pessoas, mas gerou diversos impactos físicos e psicológicos que passaram a ser preocupantes.
Doenças mentais atingiam mais de 1 bilhão de pessoas no mundo até 2019, com um aumento mais de 25% após a pandemia. No Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 86 de cada 100 brasileiros sofrem com algum transtorno mental, principalmente stress, depressão e ansiedade. A arquitetura estuda a modelagem do ambiente físico e cada vez mais a preocupação de utilizar os ambientes para promover o bem-estar se torna uma prioridade, os estudos da Neuroarquitetura resultaram em uma nova linha de estudos do design buscando o bem-estar, esta é a base da Arquitetura Biofílica que você vai conhecer nessa matéria.
Invista na sua qualidade de vida!
O que é Biofilia?
A palavra “biofilia” é a junção dos termos gregos bios (vida) e philia (amor a/inclinação a), “Amor/Inclinação à vida”. Utilizado em bibliografias da psicanálise a partir da década de 1960, estaria relacionado então à ligação emocional que os seres humanos têm com a natureza, incluindo até as formas inconscientes de busca pela conexão com o meio ambiente. A hipótese da biofilia sugere que os humanos possuem uma tendência inata de buscar conexões com a natureza e outras formas de vida. Edward Osborne Wilson, renomado entomólogo e biólogo, introduziu e popularizou a hipótese em seu livro, “Biophilia” (1984), ele define a biofilia como “o desejo de se afiliar a outras formas de vida”.
O termo foi usado pela primeira vez por Erich Fromm, psicanalista e filósofo alemão, para descrever uma orientação psicológica de ser atraído por tudo o que é vivo e vital. Wilson usa o termo em um sentido relacionado quando sugere que a biofilia descreve “as conexões que os seres humanos buscam subconscientemente com o resto da vida”. Ele propôs a possibilidade de que as profundas afiliações que os humanos têm com outras formas de vida e com a natureza como um todo estejam enraizadas em nossa biologia. Afiliações positivas e negativas (incluindo fóbicas) em relação a objetos naturais (espécies, fenômenos) em comparação com objetos artificiais são evidências de biofilia.
A Arquitetura Biofílica
De maneira simplificada, podemos explicar a arquitetura biofílica como a reinterpretação da relação entre homem e natureza, sendo assim, esse movimento pode ser entendido como uma busca por conexão. Podemos compreender melhor do que se trata esse conceito e ver que ele não se trata apenas criar paredes verdes, usar madeira nos projetos ou usar a palavra “sustentabilidade”. A ideia vai muito além disso, buscando promover o bem-estar, a saúde e o conforto emocional através de uma reconexão das pessoas com a natureza, proporcionada a partir de projetos que promovam essa relação.
Alguns elementos presentes em projetos que consideram a arquitetura biofílica são a iluminação e ventilação natural, valorização das janelas e paisagens externas, a utilização de plantas em espaços internos, ambientes mais silenciosos ou com sons que remetem à natureza (como fontes de água, por exemplo), compondo um conjunto que transmite tranquilidade, assim como o uso de materiais sustentáveis, que são mais eficientes. Cores e texturas, que parecem ou reproduzem padrões encontrados na natureza, também podem ser usadas como estratégia para um projeto de design biofílico, seja em espaços residenciais ou corporativos.
Como promover a arquitetura biofílica?
Experiências diretas de natureza
A ventilação natural é muito importante para o conforto humano e a produtividade. A experiência da ventilação natural em um ambiente pode ser aprimorada por variações no fluxo de ar, temperatura, umidade e pressão. O fluxo de água acalma nossos sentidos, melhorando nossa sensação de bem-estar e por consequência nossa produtividade.
Experiências indiretas de natureza
A utilização de materiais naturais, cores naturais, a simulação de luz natural, o contato com formas naturais, elementos que evoquem a natureza ou que denotem a passagem do tempo. Imagens de natureza são ótimas tanto para nossos sentidos intelectuais quanto emocionais.
Materiais naturais podem ser especialmente estimulantes, refletindo as propriedades dinâmicas da matéria orgânica na resposta adaptativa às tensões e desafios da sobrevivência ao longo do tempo. Formas que trazem a natureza provocam a nossa imaginação e estimulam a criatividade, mesmo que não sejam excessivamente complexos, formas simples já proporcionam um ótimo resultado.
Experiências de espaço e lugar
Aqui tratamos a busca pelo refúgio, a complexidade organizada, a integração de pessoas e sentimentos de lugar, a utilização de espaços de transição a mobilidade e orientação. Proporcionar vistas amplas, tanto para dentro quanto para fora, nos dá uma noção mais ampla das “oportunidades e perigos” do espaço e maior sensação de refúgio e segurança. Pessoas que desfrutam de espaços que possuam uma sequência definida, assim como pontos de encontro, obtém um maior sentimento de lugar e integração com as pessoas.
Benefícios da Arquitetura Biofílica
Os projetos arquitetônicos que aplicam o design biofílico comprovadamente proporcionam mais relaxamento e bem-estar aos utilizadores, o que tem influência inclusive na criatividade e na produtividade ao longo dos dias. De acordo com o relatório Human Spaces no Impacto Global de Design Biológico, quando presente em locais de trabalho, os níveis de bem-estar aumentam em torno de 15%, já a produtividade em 6% e a criatividade em 15% quando relacionados àqueles que atuam em ambientes sem a presença da natureza.
Uma pesquisa da Universidade de Chiba, no Japão, dividiu 168 voluntários em dois grupos, metade passeando em florestas, e os demais em centros urbanos. O resultado? Os que tiveram contato com a natureza mostraram diminuição de 16% no cortisol (hormônio relacionado ao estresse), 4% na frequência cardíaca e 2% na pressão arterial.
Já um estudo produzido na Universidade Deakin, na Austrália, revela que a natureza proporciona momentos de relaxamento e liberdade, e possui impacto positivo no estado mental dos indivíduos, uma vez que reduz sintomas de ansiedade e depressão.
Enquanto isso, na Holanda, pesquisadores do Centro Médico Universitário de Amsterdã perceberam que pessoas que vivem próximas da natureza diminuem em 21% as chances de desenvolverem depressão. Além disso, vale destacar também outros benefícios, como redução na ansiedade, melhora na qualidade do sono, na imunidade e nos problemas cardíacos e pulmonares.
Estudos brasileiros ligados ao World Green Building Council apontam que trabalhadores que fazem suas tarefas dentro do conceito da biofilia apresentam rendimentos muito superiores. Os estudos apontam ainda que a biofilia em ambientes de trabalho, condomínios, escolas e hospitais, aumenta a sensação de bem-estar, reduz tempo de internação de doentes, aumenta a concentração de alunos, mesmo os mais dispersos, reduz o stress e aumenta a produtividade e criatividade.
Todos estes estudos se baseiam no fato de que 99% do tempo da existência da humana, vivemos na natureza. A desconexão é percebida pelo corpo e a mente, as consequências são cada vez mais intensas e todos sentimos a necessidade de buscar alternativas para voltar às origens e revisar o desenvolvimento que nos trouxe até aqui.
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