Estamos na era da informação, somos bombardeados com todo tipo de conteúdo que muitas vezes pode trazer efeitos negativos como preocupações, stress, ansiedade e até mesmo depressão. Aprendemos a cuidar da nossa saúde física, mesmo que não seja aplicado por todos, mas deixamos a saúde mental de lado por muito tempo.
A busca pelo bem-estar se tornou essencial, principalmente após a pandemia do Coronavírus, porém a maioria de nós não sabe que podemos encontrar um relaxamento revigorante em determinados ambientes, simplesmente pela forma como aquele lugar foi pensado arquitetonicamente. Há uma relação muito interessante e complexa entre a maneira como um ambiente foi construído e seu impacto no que sentimos e como nos comportamos, é justamente isso que a Neuroarquitetura estuda.
O que é?
Essa área estuda como o ambiente (percepção espacial, luz, cores, temperatura, entre outros) é capaz de influenciar diretamente as reações no cérebro, como alterações no humor e comportamento. Os princípios da Neuroarquitetura levam em consideração os elementos da arquitetura e decoração que promovem o bem-estar aos moradores. Inclusive a Arquitetura Biofílica estuda o impacto dos elementos da natureza utilizando os conceitos da Neuroarquitetura.
A relação entre cérebro e ambiente pode trazer diversos entendimentos sobre porque certos locais estimulam certos comportamentos e sentimentos. Uma loja que estimula a compra ou dialoga com um tipo específico de consumidor, ajuda nas vendas simplesmente porque as paredes, figurativamente, começam contando ao cliente que aquele lugar lhe traz vontade de comprar. O mesmo ocorre com escritórios, em certos casos é preciso estimular a criatividade, em outros a concentração, e toda a atmosfera começa com as decisões arquitetônicas e como elas influenciam o cérebro humano.
Invista na sua qualidade de vida!
Onde surgiu?
O médico americano criador da vacina da poliomielite Jonas Salk, na década de 50, após um período morando na Itália percebeu que toda vez que visita a Basílica de São Francisco de Assis, localizada na cidade de Assis e construída no século XIII, ficava mais criativo e inspirado. Ao retornar aos EUA em 1962, criou uma escola chamada Instituto Salk para pesquisa nas áreas de biologia molecular, genética, neurociência e biologia de plantas na cidade de La Jolla na Califórnia. Para isso, chamou o arquiteto Louis Kahn, e pediu que o projeto fosse um misto de arte com ciência, onde a funcionalidade e a estética caminhassem lado a lado, inspirando os cientistas a fazerem pesquisa como os artistas fazem arte. Hoje o edifício do Insituto é um dos prédios mais incríveis e emblemáticos construídos no século XX.
O termo surgiu em 2003, após a criação da Academy of Neuroscience for Architecture (ANFA), em San Diego (Califórnia), com o objetivo de “promover e avançar o conhecimento que vincula a pesquisa em Neurociência a uma crescente compreensão das respostas humanas ao ambiente construído”. A partir daí, o tema começou a ser difundido nas escolas de arquitetura do mundo todo.
A Neuroarquitetura e os cinco sentidos
Sabe quando um aroma, um objeto ou uma música lembra a casa de alguém? Ele ocorre porque o ambiente é associado à memória afetiva, e os sentidos (visão, olfato, paladar, audição e tato) são responsáveis por fixar no cérebro as sensações. Por isso, é comum relacionar alguma decoração ou a um determinado local. O aroma de um bolo, por exemplo, pode trazer lembranças de um momento e, também, detalhes do local onde se teve a experiência, como a cozinha da mãe. A posição das janelas e a vista para paisagens naturais também estimulam o bem-estar, impactando diretamente no humor e produção hormonal das pessoas.
Reconhecemos o quanto a casa de nossa infância diz sobre nossos propósitos. E como cada casa ou fase da nossa casa expressa etapas da nossa vida. A casa que habitamos revela bem o quanto o externo reflete o interno
Livro “A Casa Fala - Uma relação de Vida e Amor”, Maria do Carmo Brandini e Yara Lorenzetti
Cada ser humano é único e todos buscamos o bem-estar
Cada situação exige uma forma específica de aumentar o bem-estar, para uma pessoa que tem problemas de insônia, um projeto acústico ajuda a eliminar ruídos que atrapalham o sono. Já para as crianças, a preparação de ambientes que atendam suas necessidades pode fortalecer a autoestima. Os móveis dimensionados à altura de uma criança, por exemplo, permitem que seus itens de interesse fiquem acessíveis aos seus olhos e às suas mãos, e ajudam a trabalhar a autoconfiança, a independência e o desenvolvimento motor.
Esse processo é chamado de neuroplasticidade ou plasticidade neuronal. É a área da medicina que aponta que 90% das doenças crônicas estão relacionadas às exposições ambientais. Além disso, outro estudo que destaca a importância dos projetos que propiciam o bem-estar é a epigenética. É um reflexo de cada ser humano.
Adrielly Barron, neuroarquiteta para Casa Vogue
Uma iluminação que simule o ritmo cardiano, por exemplo, pode ajudar quem tem insônia. Já a presença de plantas dentro de casa ajuda a melhorar em até cinco vezes a qualidade do ar, o que, por sua vez, pode aumentar de oito a 11 vezes a produtividade. Isso acontece graças à capacidade do sistema nervoso de adaptar sua morfologia e fisiologia de acordo com os estímulos internos e externos. Dessa forma, a neuroarquitetura surge como ferramenta para criar ambientes mais saudáveis, mas para isso é preciso analisar a rotina e as preferências de cada um, isso porque a técnica não segue uma receita única, ela é adaptada às necessidades individuais.
Reconhecer que estamos sempre evoluindo e buscando melhorar a qualidade de vida são características de um movimento deste século chamado de Novo Luxo, onde os excessos começam a ser questionados e as pessoas começam a valorizar a natureza, a equidade e uma extensão da qualidade de vida para todos ao seu redor. Para chegar até aqui, muitos estudos e vivências aconteceram, é gratificante saber que tanto esforço está valendo a pena e que cada dia estamos caminhando para um mundo melhor.
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